25 de dez. de 2011

Sem título

Descobri nesses dois dias que a internet não é um lugar para ser visitado durante o natal: de um lado, os engraçadões que não perdem a chance de fazer uma piadinha depreciativa e sagaz com qualquer coisa e que acabam se tornando eles mesmos o tio do pavê (maior mazela da vida do ser humano desde a criação do pavê, aparentemente); do outro, as pessoas que, em algum momento da vida, tiveram algum trauma que tirou a graça da data e que acreditam que a missão maior de sua vida é alertar o resto dos homens da hipocrisia da comemoração, etc etc. No meio disso, as pessoas que vem falar de religião, mas isso deixou de ter alguma credibilidade quando compararam papai noel a jesus.

Enfim, cada um gosta do que quer, mas é muita falta de amor no coração dizer que tu torce pra isso acabar para poder parar de fingir que está feliz e voltar para casa, ouvir Bob Dylan e acabar com essa falsidzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz.



Até o Mastodon gosta do natal, forte abs.

20 de dez. de 2011

Vinte e um

Tem gente que se preocupa tanto em descolar um sentido imediato pras coisas que não entende que, às vezes, você tem que prestar atenção e se esforçar para tirar o que vale a pena de um monte de (ditas) baboseiras.

“Por que isso vai ser útil pra mim, hein?”

“Cala a boca e ouve, tu vai se surpreender.”

Não tem nada pior que má vontade em aprender, nego que rejeita coisas que não entende por ser de fato imbecil ou por achar que é inteligente, o que vem com o combo veia cômica afiada + preconceito disfarçado de alta cultura.
Típico pinta que faz questão de exaltar o lugar-comum de qualquer arte, mas menospreza o que é um pouquinho mais difícil de entender.

Enfim, por que eu me preocupo com isso, mesmo?

14 de dez. de 2011

Mastodonte

Sua amiga chegou e ficou perto de nós dois, e ela não fez menção nenhuma de nós apresentar; ao invés disso, foi olhar alguma coisa longe dali. Eu fiquei sozinho com ela e sabia que seu nome era Ana Carla, só que mesmo assim:

“E aí, tudo bom?”

“Bom, e você?”

“Também, como é seu nome mesmo?”

“Emanuela... difícil guardar, né?”

“Vou lembrar, prazer”

“Prazer, Larissa”
____________________

Sonhei com isso e com certeza foi mais interessante em minha cabeça, mas não custa nada deixar escrito. Às vezes é bom pensar em algo que não faz sentido.

1 de dez. de 2011

Ordinário

Há quase dois anos eu estava começando a gostar de Wilco, numa quarta-feira em que eu passei a noite inteira ouvindo e tocando ‘Misunderstood’, emulando pela primeira vez, com o violão alto no peito e os berros finais, Jeff Tweedy.
Desde então é uma das minhas bandas preferidas, se não for a preferida.
Eu ouvi feito bobo qualquer coisa que eu pudesse encontrar deles e gostava de ir cada vez mais fundo, descobrindo qual era a melhor versão ao vivo de cada música e quais os b-sides e demos valiam a pena.

Agora, de uns tempos pra cá, eu descobri o Black Drawing Chalks. “Music to drink, dance and fuck”, e só isso: não tem pretensão de ser bonito e nem certeiro em cada verso, descarta a necessidade de colocar tudo em termos sutis e sublimes e ao invés de acertar seu coração, te acerta logo na cara para te acordar um pouco pra vida.
Eu não preciso pegar meu violão e apertar a correia para tocar isso, eu só preciso colocar minha guitarra lá embaixo e fazer o máximo de barulho que conseguir.
É um som tão simples, fácil e divertido que me faz colocar em xeque o tempo que eu passei me dedicando ao Wilco e a importância que a música deles de fato tem para mim.

Mas eu esqueci que chega uma hora em que tudo perde uma parte do sentido e da força sobre você, e com o Black Drawing Chalks não foi diferente: assim como o Wilco eles foram caminhando devagar (ou nem tanto) para o seu ápice, seu maior momento de significado, algo como o ponto em que eu sempre quis chegar depois de seguir esse ou aquele caminho.
Depois disso as coisas se desgastam e você (eu) precisa voltar para as outras coisas que, há tempos, estavam esquecidas; recuperar o significado e a importância que, quando colocados a prova, mostram sua força.

Acaba que, de pouquinho em pouquinho, consegui conciliar os dois sem preferência por nenhum. Cada um com seu próprio sentido, cada um com o som que se encaixa em cada momento, e é isso o que torna tudo interessante; às vezes ouvir sobre o amor te diz mais, às vezes não.

16 de nov. de 2011

Belezza

Mais de mês sem escrever.

Não que eu faça isso só para reclamar, mas nesse tempo eu resolvi cada picuinha que foi aparecendo sozinho, sem necessidade de um texto retratando os maiores problemas do país (no que diz respeito ao meu quarto), seja para chegar a uma conclusão pacificadora ou só para expurgar a frustração mesmo.

Fui largando mão das coisas que me enchiam, parei de ligar para as pessoas que não iam dar retorno e, de pouquinho em pouquinho, voltei a ficar confortável na minha própria pele de novo.
Resolvi colocar coisas em prática também, e aprendi a pescar ideias ao invés de esperar elas virem milagrosamente, trabalhar nelas feito um filho da puta e a pensar em termos mais longos do que um desenho apenas. Coisa de projetos, etc etc.

Tirando isso (frescuras), fui no SWU. Me senti lá de facto quando ouvi o começo de ‘666 Conducer’, do Black Rebel Motorcycle Club, só fui entender que ia ver os caras do Sonic Youth quando faltava cinco minutos para começar e gritei ‘Porra! Caralho!’ o mais alto que consegui no Faith No More.

Além disso, foi bacana passar frio, tomar chuva, agonizar do Megadeth ao Alice In Chains (que serviu pra dar um cochilo esperto) e pisar em uma mistura formidável de barro com mijo a maior parte do tempo.

Agora é manter as más vibrações e conquistar cada vez mais vitórias para o meu histórico na escola da vida. Rumo ao segundo lugar.

3 de out. de 2011

Consolação

Então que eu fui ao MASP e, enquanto esperava minha companhia fazer anotações que eu não li sobre Cézanne, vi um quadro de Duke Lee, um retrato que mais parecia um desenho gigantesco e psicodélico. Se isso não é vitória, eu não sei de mais nada.

Os traços eram fluidos e eu fiquei dez minutos olhando para as mãos do retratado, tentando imaginar aquele maldito desenhando cada dedo cruzado em um movimento único e rápido; eu diria que é cheio de espontaneidade, mas de acordo com uma mulher que dá aulas de teoria da arte há trinta anos isso não existe e eu sou idiota por acreditar que sim. Nada como dar sua opinião em voz alta, não é mesmo?

Enfim, apesar de ser uma máquina fria de impressão em massa sem sentimentos, Duke Lee me cativou com esse quadro de um jeito absurdo; ao lado de monstros da pintura, eu só falava dele, e voltava para lá sempre que podia. Ver um original de Dalí não me emocionou tanto quanto aquele senhor de bigode e terno.

Esse quadro foi o gatilho de sensações que começaram a surgir com os desenhos de pessoas que não conheço e o meu próprio no caderno da minha amiga, mais cedo; nada que dê para definir com palavras ou entender por que aconteceu, apenas a consciência de que, bom, suas opiniões e olhares sobre o que você faz já não fazem sentido. Está na hora de começar a buscar novas referências e experimentar novas coisas.

Acho que tudo que não faz parte do seu mundo, tudo o que vem de fora e que acrescenta vai te deixar com essa sensação de vazio: ou você se sente menor por não saber o que fazer para atingir essa nova visão e se equiparar a quem te inspira, ou você se sente muito bem sabendo que ainda há muito que descobrir para preencher isso. Ou os dois, ao mesmo tempo, te colocando naquela crise existencial vencedora; se você der sorte de isso acontecer em um domingo, pode apreciar o Faustão te dando um empurrãozinho em seu caminho para o ÂMAGO da sua alma.

Sobreviver a esse tipo de provação te faz ver que, assim como o quadro de Duke Lee ou o desenho bonitinho de uma japonesinha que você não consegue imitar por nada, as pessoas tem essa mesma força para mudar o seu modo de ver as coisas. Pelo menos as suas coisas, e de um jeito tão inesperado e marcante quanto olhinhos brilhantes e traços assustadoramente retos.

Pra ser “honesto a valer”, vá lá: cada uma das pessoas que estiveram comigo nesse sábado, na Capital, tiveram esse valor para mim; cada um acrescentou algo e me mostrou opiniões sobre as coisas mais banais da vida e sobre si mesmo; cada um se abriu o tanto que se sentiu confortável, e eu aproveitei de todos o quanto consegui.

Se eu tive tanto impacto na vida alheia, não sei, e sinceramente não me interessa: a oportunidade de abrir o escopo vale mais do que a incerteza de sua importância.

Sinceridade reveladora e expositiva demais, pode ser; eu não costumo dizer esse tipo de coisa para quem eu vi e me viu uma só vez, e talvez nunca mais. Mas por que não correr o risco de pintar que você ama todo mundo? Aguardo risinhos cretinos e todos cortando relações comigo de um modo não muito sutil.

No mais, tudo bem, vou para sempre ter o e-mail do Duke Lee.

27 de set. de 2011

V.

“De alguma forma, tudo se ligava a uma história que ouvira certa vez, sobre um menino que nascera com um parafuso de ouro no lugar do umbigo. Durante vinte anos, ele consulta médicos e especialistas em todo mundo, tentando livrar-se do tal parafuso, sem sucesso. Finalmente, no Haiti, encontra um feiticeiro de vudu que lhe dá uma beberagem malcheirosa. Ele bebe, dorme e tem um sonho. No sonho, vê-se numa rua iluminada por lâmpadas verdes. Seguindo as instruções do feiticeiro, dobra duas vezes à direita e uma à esquerda, partindo de seu ponto de origem, encontra uma árvore junto à sétima lâmpada de rua, toda coberta com balões coloridos. No quarto galho de baixo para cima há um balão vermelho; ele o estoura e lá dentro há uma chave de fenda com cabo de plástico amarelo. Com a chave de fenda, remove o parafuso da barriga, e assim que isso acontece ele acorda do sonho. É de manhã. Ele olha para o umbigo, o parafuso desapareceu. A maldição de vinte anos foi finalmente suspensa. Delirante de alegria, ele salta da cama, e sua bunda cai.”

16 de set. de 2011

Marromenos

Quanto mais fotos de repúblicas mequetrefes-porém-cheias-das-boas-vibes e festinhas com sangue de boi e amor no coração, comentários sobre trabalhos cansativos e prazos estressantes que ai meu deus, aquele professor maldito não podia ter dado; a cada relato dessa vida de quem estuda fora, proporcionados pela maior rede social do século XXI nesse ano (o facebook), um pensamento vencedor me passa pela cabeça, sempre: eu vou dar conta de lavar minhas roupas à tempo? Porque eu sinto que sou o tipo de cara que vai usar sunga para não ter que apertar três botões, etc etc.

Nesses tempos confusos eu tenho pensado nessa de ser maduro para as coisas. Parece que entrar na faculdade te coloca uma aura ao redor, que suga teu quinhão de besteira para sempre e substitui por uma necessidade bocó de ser categórico o tempo todo e se afastar de quem, hahaha, não está acima da nota de corte.

A cena padrão dos últimos tempos, ouvir de quem nasceu uma primavera antes de mim um cretino “você ainda tem muito que aprender da vida”. Não deixa de ser verdade, admito: eu mal sei escrever um texto com coerência entre os parágrafos, lá vou saber todas as manhas desse jogo fundamental? O que incomoda é a pompa, o ar de deboche; é aquele filho da puta que gosta de Lars von Trier e se acha especial por isso, te pintando como um débil mental para todo mundo na mesa.

Questão de não ser imbecil, mas também não ser cabaço.

10 de set. de 2011

Menos frases sacais, mais palavrões em caixa alta

Lendo uns posts antigos, vejo como meus textos deixaram de ser “confortáveis” para se tornarem áridos, distantes e simbólicos demais; falam mais da vida do que sobre mim, e de um modo tão distante e geral que às vezes eu tenho que puxar na memória, com muito esforço, o que eu queria dizer de fato com isso ou aquilo.

Pode parecer egocentrismo achar que a impessoalidade é uma falha, mas o espaço está aqui para isso, acho. Quando eu leio o blog de alguém, conhecido ou não, eu espero ver alguma parte significativa da pessoa; algo que seja íntimo, mas não necessariamente profundo.

Certo que, ao mesmo tempo que com as palavras eu venho sendo mais conciso, a exposição do que eu sinto é bem maior, em um nível pessoal. Só preciso aprender a remediar os dois, mas sem muito exagero, como agora.

E eu não posso fingir que não sei os motivos, porque eu sei: é a vontade de ser certeiro e muito inteligente e muito legal, para se equiparar ao resto da rede mundial no quesito “amargurado com a vida só que de um modo irônico e produtivo”. Tem funcionado tão bem que, na falta de alguém pra achar isso bobo, eu faço as vezes.

Simplicidade, mas não sequidão; não embelezar demais, mas não tirar demais.

Todo texto, no fundo, é só uma conversa de boteco. Se tu não se sente feliz relembrando cada uma, é porque alguma coisa tem que mudar.

Flutuando no espaço

“Tem vezes que não dá para fazer nada; o que te sobra é ler, ouvir, tocar, assistir... colher material para produzir mais coisas. Você passa tanto tempo recolhendo referências e sentimentos, para jogar tudo de uma vez no papel. E depois desse tempo mínimo de ação, vem uma sensação de vazio, como se você já tivesse tirado todo o sentido do momento: a banda que resumia tudo começa a ficar insuportável, os traços que você passou tanto tempo aperfeiçoando, tu não gosta nem de lembrar, e todos os princípios de música parecem bobos.”

Tu compra novos livros, baixa novas bandas e conhece novos artistas; vai para frente. Mas o espaço de tempo entre esses momentos deixa qualquer um com a cara no chão.

30 de ago. de 2011

Inacabado

“Você sempre conseguiu escrever tudo o que eu sinto, sabia? Com poucas firulas, ainda; eu acho isso o mais legal.”

“É o meu jeito de escrever, só isso; não gosto de me esconder atrás de palavras difíceis e enfeites, construções confusas, coisas assim... Que bom que você gosta.”

“E os sentimentos? Explica os sentimentos.”

“Eu só presto atenção nas coisas que você diz. Elas fazem sentido para mim também.”

“Quais coisas que eu digo?”

“As pequenas coisas. Às vezes eu acho que você nem se toca de que uma frase sua me rende um texto todo, assim na hora.”

“Não mesmo... É engraçado isso, né, é tipo aquela pessoa que senta com você no bar, e vai embora toda feliz de ter te conhecido...”

“Sendo que talvez você nem tenha guardado o nome dela.”

“Isso. Mas enfim, você estava falando sobre seus textos.”

“Acho que é só isso, sabe. Tudo o que eu faço é desse jeito, coisinhas que ficam na minha cabeça e... Eu penso bastante nelas.”

2 de ago. de 2011

Piauí

“A noite já está naquelas quando ela chega. Três garrafas de cerveja e um drink de mocinha já foram, além de duas porções monumentais de mandioca. Todos já estão satisfeitos e agora ficam só nos suquinhos e refrigerantes, de leve. O que interessa agora é a conversa, as companhias por elas mesmas, e essa é a hora em que tudo está no prumo: todos prestando atenção e falando e discutindo; todos submersos em um assunto que, ele não sabia, seria tão bem recebido. Ela não se lembra dele, ele sabe ou acha que sabe, mas ele se lembra dela. Não porque a marca que ela deixou foi algo além de algumas noites de sono perdido e alguns minutos sem conseguir pensar muito bem, mas porque qualquer coisinha miúda que cruza seu caminho e chama sua atenção, ele se lembra. É assim. Poderia dizer algumas bandas de que ela gostava, filmes, músicas e versos que ela achava bonitos. Ela não sabia nem ao menos o seu nome. Foi embora, se perdeu em memórias mais importantes. Ou talvez não. Agora as dúvidas começam a borbulhar na cabeça a cada olhadinha que ela dá por sobre o ombro toda vez que ele e seus amigos citam alguma passagem de um monte de filmes que, às vezes, ele nem conhecia. Uma situação de reação instantânea do olho em função das palavras. Aquele estranhamento seguido de interesse que nos toma quando alguém fala de algo tão querido por nós, mas não para nós. A vontade não de ouvir por ouvir, mas a vontade de ser parte da conversa e poder dizer tudo o que você pensa sobre o assunto em questão.”

Um texto que fiz em junho.

Começa falando de uma coisa e termina falando de outra, porque na verdade não está terminado. E nem vai terminar; perdi toda aquela neurose que motivava a escrever no dia seguinte ao acontecido e no fim, isso é bom.

28 de jul. de 2011

Tupelo

Às vezes você deixa pessoas para lá sem nem perceber. Não de um jeito malvado ou ruim, você apenas se acostuma a ela e não sente mais a obrigação de ser agradável, prestativo ou presente; você sabe que, agora que a amizade já se “assentou”, não tem mais essa necessidade de se mostrar o tempo todo para conseguir aquele formidável lugar no lado esquerdo do peito do cidadão.

Mas não tão sutil quanto isso, que acontece sem você nem perceber, é quando você lembra que a pessoa está lá, e que você gosta dela.

Quando isso acontece, eu quero saber tudo o que vem rolando o mais rápido possível; arrumo desculpas para comentários sagazes e assuntos que, eu sei por experiência, vão render pelos menos um pouco. Só para matar a saudade, se a amizade for distante (e eu não falo de metros).

Comigo, qualquer coisinha é suficiente para deixar afobado em querer só mostrar serviço, apesar do silêncio; para deixar essa sensação de nostalgia por umas horas ou por uns bons dias.
Uma foto, um comentário, um vídeo, e é o resto da tarde remoendo... um sonho, um texto longo, uma conversa rápida, e lá se vai o resto da semana nisso, com o cuidado de parar um pouquinho para relaxar, porque sempre existe o risco de acabar parecendo um idiota.

11 de jul. de 2011

Uma página sem desenhos

Quadro 1

"Você tem que ser bom para conseguir fazer algo totalmente no improviso quando isso envolve escrita ou desenho, sabe? As teclas parecem mais pesadas de se bater e o lápis não se segura na sua mão; o esforço parece hercúleo."

Quadro 2

"Tudo fica mais claro quando as ideias vêm de antes, muito antes. Vão fervilhando na sua cabeça e o que separa você do resultado final é o tempo de se sentar e trabalhar naquilo."

Quadro 3

"Nada de dúvidas ou entraves, apenas possibilidades se abrindo conforme o esforço e atenção colocados."

Quadro 4

"Às vezes, as coisas são ditas cedo demais, e daí ficam sem uma conclusão."

Quadro 5

(nesses casos, você encerra com um desenho bem bonito que cobre tudo; isso acaba fazendo uma piadinha com a própria situação e todo mundo acha interessante e bem pensado).

13 de jun. de 2011

Sobre pescar, com toda a paciência do mundo

Eu ia escrever um texto sobre o quanto eu teimo em transformar em problemas e incertezas situações que deveriam somente me deixar feliz.

Falar sobre o quanto eu fico excitado vendo uma colega que não via há tempos tocando, e o quanto ela cresceu na técnica e na presença.

O gosto de ver gente que não se sente intimidada por coisa alguma fazendo música, ainda mais tão próxima.

Sobre o quanto, ao mesmo tempo, isso me deixa inseguro em relação a mim mesmo, que tenho muito medo e muita vergonha de fazer o que eu faço melhor, perto dos outros.

Ainda, sobre o quanto é frustrante não poder fazer da dedicação ao instrumento uma opção, porque agora qualquer tempo que passo fazendo algo que não seja obrigação não é feito sem dois terços da cabeça pensando nessas tais coisas que eu tenho que fazer.

Há uns tempos, também, eu decidi que não iria atrás de desenvolver a técnica de um jeito artificial, na falta de outra palavra; sem decorar escalas ou treinar a agilidade nos dedos. Isso vem com o tempo e eu faço o máximo que consigo nas limitações de agora. É assim que se desenvolve de verdade, para mim: chegar ao limite do que você tem, para aí andar para frente.

É comodismo ou desculpa para massagear meu ego de suposto bom músico? Talvez.

E se for assim, cadê meu máximo prometido? Faz um bom tempo que estou esperando, viu.



Era sobre isso que eu queria falar.

23 de mai. de 2011

"Não tem problema...

...de bosta em bosta a gente chega lá"

Disse Tia Karin, minha primeira professora de desenho, em resposta a uma nova colega que me emprestou seus lápis de cor e me ensinou a pintar usando o paninho.

Ainda ganhei uns pedaços de maçã, um suco para tomar sem medo de engordar (palavras dela) e gostaram do meu desenho.

Só espero as próximas segundas-feiras.

22 de mai. de 2011

Meu véi, descomplica

Viu como é fácil encher a cabeça de dúvidas?
Se eu toco devagar, foda-se.



Só não vale ficar remoendo sobre isso, hein.
Tem que ir lá e fazer.

3 de mai. de 2011

Cores voltando

Desde ontem, acho que desenhei mais e com mais atenção, do que nos últimos quatro meses.

Desenho algo, e fico pensando sobre: como deve mudar, o que eu poderia continuar usando, o que eu já deveria ter descartado de vez... Muita preocupação à toa? Talvez, mas vamo que vamo.

Também tenho tentado ver os desenhos de outros artistas com mais atenção, de uma forma mais didática, acho, para ver se consigo entender como eles desenvolvem, como pensam nas coisas, e também para adotar alguns traços deles, para mim. O nome disso é copiar, mas parece que é socialmente aceito nesse meio loko das artes.

A conclusão que eu chego é que é muito difícil fazer coisas por você mesmo, definir um estilo próprio e isso ainda te agradar. Tudo bem, eu tenho muito tempo, uma hora vem, mas mente quem não fica na ansiedade de achar algo que seja só seu.

Também é muito difícil copiar coisas dos outros, e acertar na mesma medida.

Talvez as pequenas diferenças que ficam quando você faz isso, seja o que vai definindo algo seu. Vícios e trejeitos, que você não consegue se livrar, e até quando não quer colocar isso no papel, sai.

O que vira é saber aproveitar cada pequeno detalhe.

O que é bom você usa, o que não serve para você acaba sendo descartado. E os dois acontecem naturalmente.

27 de abr. de 2011

Aquele de sempre

Pessoas que não conheço, mulheres principalmente, me fazem pensar.

É sobre a situação em volta: a insegurança de uma conversa, a vontade de me envolver, a ternura que se sente por algumas pessoas por nada... esse tipo de coisa. Nada mais.
Sem nenhum sentimento a mais ou algo assim.

Já tinha escrito que uma pessoa é mais inspiradora que qualquer outra coisa. Talvez só menos que um sentimento.
Uma pessoa é tangível, você pode tocar nela, pensar nela sem meios-termos.
Só um pequeno esforço, nem isso, e pronto, você tem a imagem formada na cabeça.

A imagem fixa, pronta, te dá alguém com quem falar.
Alguém para direcionar os pensamentos, os sentimentos.
Torna físico o que você sente, elimina as angústias de formar algo concreto a partir de algo abstrato.
Sem nenhum sentimento a mais ou algo assim.



Não sei.

20 de abr. de 2011

'Abraço, Perdido'

Às vezes nem esses momentos bonitos conseguem driblar a certeza de estar fazendo algo errado.

Insisto demais em coisas que, de repente, as outras pessoas nem fazem questão.

Muito amor no coração? Eu não quero deixar ninguém de fora das coisas; quero que todo mundo fique tão feliz quanto eu estou. Faço na boa vontade.

Tô tranquilo, só que ao contrário.

14 de abr. de 2011

Chuva negra

As coisas têm sido sempre tensas demais, de um jeito menor; eu sempre falo de ter que estudar, de complicar tudo, de não conseguir ir atrás do que quero.
No fim, eu só estou praticando meu esporte preferido: reclamar como se minha vida fosse muito difícil.

Não vale a pena ficar remoendo sobre esse tipo de coisa muito mais, vai ser sempre a mesma ladainha e, ora, eu não vou resolver agora mesmo. O momento é de dizer que nossa, esse ano tá difícil, viu, mas para quê insistir tanto?

Enquanto isso, para confortar tudo, um monte de coisas legais acontece: saem os discos das bandas que eu mais gosto, os amigos vão ficando cada vez mais presentes e necessários e sinceros, depois de muito tempo toco guitarra e violão com vontade (até estou compondo coisas, veja só)...

Coisas pequenas. Às vezes acho que tão pequenas que só mostram o quanto minha vida anda mansa.

Nada de fatos grandiosos para me fazer dizer que o momento é sublime; é só ouvir esse disco novo do Camelo ou ser intimado para um toque (de mão mesmo).
No fim, acho que isso é o que fala de verdade; pequenos gestos e acontecimentos, frases que te tocam... É só saber ouvir, prestar atenção e engrandecer coisas banais.

Quando você vê, se acha deslumbrado repentinamente durante um segundo e meio.


Não é isso?

6 de abr. de 2011

'Eu nem devia estar aqui hoje'

Dois anos que tenho esse blog, recém-completos há algumas horas, acredito eu.

É interessante ver que ele funciona como um caderno de desenhos, onde você pode acompanhar sua evolução (ou regressão) conforme o tempo passa. Tudo em um só lugar, é só procurar que uma pequena parte do que eu era nos anos passados está aqui.

É pouco tempo, mas mesmo assim dá para mudar tantas coisas pequenas: o modo como tu aborda as coisas, como expressa elas, as piadinhas em caixa alta que se abrem tentadoras a sua frente... Infinitas possibilidades.

Enquanto isso, dois amigos começam essa ~ empreitada fundamental ~ só agora. Em alguma coisa na vida eu tinha que me sentir experiente, então acho bom abraçar a chance antes que eu seja deixado de lado por essa trupe de novos talentos, dissertando sobre o cotidiano e tecendo comentários certeiros sobre os problemas da vida, as manifestações culturais do momento, etc etc.

É bacana ver que algo que eu fiz durou esse tempo, mesmo sabendo que não é das tarefas mais hercúleas. Tem seu valor, afinal, então que continue até quando for legal.



Parabéns para toda a equipe, e no mais, toma-lhe!

31 de mar. de 2011

Tô tranquilão

Sempre que ouço alguma banda ou vejo os trabalhos de algum artista, me pergunto: será que esse cara sabia biologia na escola? Será que ele gastava seu tempo tocando guitarra ou estudando quadriláteros notáveis? Talvez ele preferisse desenhar que decorar regras gramaticais.

Será que vale a pena eu querer me sair tão bem em uma coisa tão pouca? Eu vou me sentir tão mal assim se pegar uma recuperação? Se o professor disser que eu relaxei demais? Se eu não souber tudo? Mesmo? Que idiota que eu sou então.

Nunca achei que notas valessem de alguma coisa para medir a inteligência de alguém, mas nunca botei isso em prática comigo mesmo.



Mas aí, será que esse tecladista manja de alelos múltiplos? Tava precisando de alguém pra me explicar.

27 de mar. de 2011

Eu nem sei mais o que se passa, amigo, tá tudo muito confuso

Às vezes parece que faço força para complicar certas coisas, e de repente me vejo tão fodido que começo a cogitar pela primeira vez (não sei por que não veio antes) em pedir conselhos amorosos pro meu irmão.

Eu só espero que tudo fique mais direito antes de eu transformar isso em um antro de frases de efeito, julgamentos rasos sobre mim mesmo, fotos artês e gifs bonitinhos.


Deveria ficar satisfeito só com coxinhas.

17 de mar. de 2011

Tenho uma banda

Eu acho, né.

Não temos nome e nem baterista. Não temos equipamentos bons pra fazer algo que saia da minha sala. E falando nisso, temos uma vaga ideia de onde vamos ensaiar. Talvez tenhamos que dividir o espaço com festinhas de criança e confraternizações cretinas. E como vamos tocar? Aposto no meia-boca, feito com amor no coração. E o que vamos tocar? Sei lá, por enquanto vamos dando voltas entre Los Hermanos e Mars Volta, fazendo uma paradinha no Mogwai e tentando imitar o Hurtmold. E a certeza de que vai dar certo? Vou procurando aqui, logo menos digo se encontrei.

3 de mar. de 2011

Carnaval com Camelo

Para um belo momento triste, em que chorar não impede ninguém de rir.





E para um belo momento confuso (um momento menor), em que rir sinceramente não impede ninguém de chorar.





Acaba comigo sendo chamado de Pierrot por um amigo.

16 de fev. de 2011

A beleza de se soltar muito (dançando feito Amarante)

São nesses momentos, e o momento agora é o show do Apanhador Só, de que vou falar logo menos, é que dá para ver o quanto as dúvidas sobre amigos e mulheres são bobas, e te atormentam (me atormentam) tanto, por nada.

Vai sempre ter alguém pra trombar e se identificar, alguém pra você conhecer e, naquelas, ir descobrindo de pouquinho em pouquinho. Talvez não novos amigos, talvez só bons colegas ou encontros de uma noite só, mas quem sabe.

Nunca se está sozinho, e toda a confusão sobre ficar com aquela guria bacana, parece não existir mais quando você conhece outras que, a seu modo, te tocam mais.

E é um alívio tremendo poder se sentir livre pra dizer a besteira que for e, no fim, continuar leve. Continuar com a certeza de que você acertou, de certo modo.

Ver que não só eu passo pela dificuldade que é se adaptar a quem quer que seja, e que eu também consigo seguir no conforto.

Poder cantar Emicida alto e se isso não apetece aquela guria de dreads que meu amigo, vou te dizer, tudo bem. Eu vou viver de amor do lado de gente assim? Talvez sempre tenha alguém pra dizer “adooooro” quando eu estiver lá. Talvez não. Vamos vendo no que dá, sem se martirizar tanto, sem fazer tantas voltas para tão pouca coisa.

Afinal, não é o prédio que tá caindo.

14 de fev. de 2011

3 gurias

Saí com um amigo recém-aceito na Unesp (também conhecido como bixo), e por causa da lotação e de reservas cretinas em todas as mesas do bar, fomos meio que obrigados a sentar no balcão, de frente para três gurias.

Com toda nossa desenvoltura, ficamos brodinhos e naquelas perguntinhas padrão para se conhecer, descobrimos que duas tinham passado e uma estava na lista de espera. Tudo na Unesp.
Uma, inclusive, no mesmo curso que meu amigo.

Foi aí que eu percebi como nosso ciclo de convivência foi mudando, coisa que acontece conforme passa o tempo, normal: agora as pessoas que nós encontramos, são vestibulandas, universitárias.
São, grosso modo, pessoas que terminaram uma etapa da vida e foram jogadas pra serem adultas, enquanto eu ainda tô me acostumando com a ideia de que daqui um tempo vou ser eu.

E disso surgiu meu sentimento de deslocamento.

Eu ainda não tive as sensações, sejam de tensão ou de alívio, que todos da mesa haviam tido.

Eu estava feliz com eles, e por eles, mas não como eles. E isso dá uma certa tristeza, porque isso nunca vai voltar. Quando eu entrar, a sensação vai ser a mesma, só que pra eles: felizes por mim e comigo, mas não como eu. Não vão compartilhar a empolgação, vão apenas entender como ela é, e talvez até reviver um momento que já foi.

Óbvio que eu vou passar por essa comoção coletiva com meus amigos de sala, mas eu estou falando de outras pessoas agora.

Talvez seja querer antecipar demais uma coisa que vai vir na minha hora, mas não tem como evitar, e isso dá abertura pra toda aquela neurose em torno voltar.

De repente um ano de cursinho parece muito, de repente eu posso começar a me sentir deslocado a todo momento. Tentando entrar na faculdade, e todos começando o segundo ano. Tudo bem, mas eu vou ter que me acostumar a ser a pessoa que só recebe os conselhos.

“Aproveite agora, que depois não volta”, “Relaxa”, “Na hora tu vai ver como é”.

Disse pra guria que estava me sentindo muito criança quando ela disse isso. Ela disse que estava se sentindo muito velha.

Claro que na realidade a gente continua sendo criança, achando que de repente viramos adultos por terminar um ano, por passar numa prova. Se isso não rolasse, não iria ter graça nenhuma.

E daí comecei a pensar sobre ir embora.

Até o ano passado, acho, tinha certeza do que queria fazer: mudar de cidade, conhecer pessoas novas e fazer da minha casa, lá. Me desprender daqui e fazer as coisas sozinho, ou “seguir meu próprio caminho”.

Talvez eu ainda queira, porque não desisti da ideia de me mudar.

Só que fica aquela dúvida, de ir embora e deixar pra trás as pessoas com quem eu sempre convivi, ou com quem passei a me relacionar há pouco tempo. Meus amigos, as três gurias do bar.

Meu medo com os amigos, não está em perder o prumo da relação: isso a gente vai ter pra sempre (eu acho). Falta me acostumar com a ideia de que nossos encontros vão ser breves, e bem aproveitados. Nada mais de todos os dias juntos, e cada momento, talvez, com uma importância que nunca antes teve.

Meu medo com os novos amigos, ou os desconhecidos que a gente vai conhecendo, agora sim, é de ir perdendo o jeito. Eu não tenho tanto tempo com nenhum deles, a gente não tem esse “compromisso”, e você precisa de tempo com as pessoas para, enfim, se sentir confortável de verdade, saber o que você pode e não dizer, esse tipo de coisa.

Prefiro driblar isso, e acreditar que é uma eterna descoberta de cada pessoa. Entender cada uma aos poucos, a cada visita, e, não importe o tempo que levar, saber até onde cada coisa vai.

Que venha então minha vez, no tempo em que eu conseguir fazer ser, e quando chegar eu quero estar na avenida pedindo grana com todos que eu quero que fiquem por perto.

11 de fev. de 2011

Minha moleza, e a capacidade das coisas serem sensacionais e ruins ao mesmo tempo

Sou ciumento com quem acabo de conhecer, e fico triste de ver que, na hora, talvez até pudesse ser eu.

Acaba que eu tenho que me contentar em cantar Oasis o mais alto que consigo, e dar risada.

É rir pra não chorar.

9 de fev. de 2011

Minha eterna reflexão sobre quão crucial é dois mil e onze

As coisas têm dado muito certo ultimamente, provando que esse ano é o mais fundamental para uma existência maior, cheia de boas vibes.

A neurose do vestibular (essa vagabunda) parece que passou para todo mundo que conheço, e finalmente consegui me livrar desse entrave. Vejo a galera fritando em cima disso, correndo atrás de provas, arrumando cursinhos e dizendo que a pressão é muita, enquanto eu dedico uma boa parte do meu dia (não ele todo, eu também estudo) a desenhar, tocar violão, etc. etc., sem culpa nenhuma.
Se eu não passar, e o resto da galera sim? Acontece.

No conservatório a grande coisa agora são os instrumentos de sopro: tá difícil ajeitar essa aula de trompete, mas enquanto eu vou tentando tirar o som por conta, só com o bocal, vou tentando a sorte com o saxofone, meu instrumento complementar escolhido a muito custo e de última hora. Era ou ele, ou o cavaquinho.
Quem sabe daqui uns tempos, eu não consigo dar uma de Guizado, e enganar a falta de técnica com uns pedais?

Os amigos velhos, tão firmes e fortes lá, e parece que você vai sempre se sentido mais ligado a eles, vendo a importância de cada um nesse momento que antecede uma possível separação.
Os novos amigos, é engraçado ver que vão dando espaço pra você discutir e fazer coisas que ninguém mais dá abertura. Nem os velhos. Aquela história de um amigo pra cada hora, sem desmerecer ninguém.

As mulheres, eu continuo frouxo, mas acho que nosso senhor Jesus Cristo olhou por mim (posso estar enganado) e agora, simpatia e sorrisos entraram nesse jogo de swing e sedução.
O diário do apaixonado, como meu irmão diz, continua pra sempre, só que agora menos platônico, e mais real.

A boina, ainda não comprei, mas tô providenciando!

7 de fev. de 2011

Apenas um momentinho do seu dia para curtir essa música do Mogwai




Vale a pena parar de fazer o que você estiver fazendo por seis minutos, e prestar total atenção na música.

Tentar acompanhar cada camada, conforme elas vão sendo inseridas na música, e diferenciando cada instrumento sem uma certeza definitiva.

Reparando em como o delay (eu acredito que seja um delay) dá o tom pra tudo isso, de um jeito meio caótico, meio que sem querer. Além da distorção absurda, toscamente exagerada mas que acaba sendo bonita.

Só queria compartilhar o quão interessante é parar de pensar em qualquer outra coisa, e focar só em uma música. No caso, talvez uma das mais bonitas do ano, até agora.

21 de jan. de 2011

Interpretando música instrumental



O broder que resenhou o ‘Hardcore Will Never Die, But You Will’ do Mogwai, pro Scream & Yell, disse que “um dos métodos mais eficazes para a assimilação de uma música instrumental é relacionar os sons com lugares e climas”.

Achei interessante esse modo de interpretar a música instrumental, porque eu sempre tento fazer o inverso: ir sempre mais fundo na própria música, tentar ouvir uma linha instrumental de cada vez e notar cada mudança, cada passagem, cada detalhezinho.

Quando tudo foi “explorado”, aí sim, é hora de ver a música como um todo e tentar ouvir todos os instrumentos como se fossem um só, formando uma coisa inseparável.

Se fosse pra fazer uma comparação visual, eu imagino como um emaranhado de fios brilhantes, em que conforme você ouve a música e descobre coisas pequenas dentro dela, vai abrindo passagem. Você nunca chega até o fim disso, mas sempre guarda os lugares mais intricados, ou mais luminosos. Passagens que significam mais para você, sentimental ou fisicamente.

19 de jan. de 2011

O conceito inovador de tocar Red Hot em bares

“Eu monto uma banda com ele, e o filho da puta ano que vem vai pra Campinas”

Amigo meu falou isso hoje, e só confirmou o que eu venho notando desde o começo das férias, a cada vez que saio com alguém: daqui, no mínimo, um ano, eu não vou ter nenhum amigo por perto.

Ir para um bar beber água, fazer os churrascos mais legais da região dos grandes lagos ou só ir pra casa de alguém jogar video game vão deixar de ser algo corriqueiro, para se tornarem coisas raras, que quando tu faz, faz com nostalgia.

Claro que eu vou conhecer gente nova, mas pra largarem de ser bons colegas e se tornarem amigos, vai demorar um tempo. E à vontade mesmo, tu nunca fica de verdade com essa galera.

Não dá pra falar de problemas, gurias e coisas mais íntimas (principalmente), e nem ser cretino e chamar alguém de “gaygaygaygaygay” enquanto faz uma dança do robô, com alguém com você conhece há menos de um ano.
Eu conheço meus amigos há sete, e até hoje a gente fala coisas que deixam todo mundo surpreso.

É estranho que uma coisa que eu sempre esperei com ansiedade vai ficando estranha, logo agora que está tão perto.

11 de jan. de 2011

Conversinhas sobre Goethe e as minhas expectativas furadas

Conforme o tempo passa essa glamourização de relacionamentos vai ficando cada vez mais boba e ineficiente.

Meus amigos são normais, e eu gosto muito deles. Nós não discutimos Fausto no intervalo da escola e não falamos de sentimentalidades (a única palavra cabível) toda hora. Esse tipo de coisa só rola às vezes, e essa antecipação de altos papos inteligentes não vai nunca levar a nada bom. Tu se frustra por não conseguir se relacionar com outras pessoas do jeito que você gostaria, sendo que isso não depende só de você. O que os seus amigos podem te oferecer, tá bom.

Mesma coisa com mulheres: eu sempre fico pensando em como seria legal ser muito amigo de tal e tal menina, ou o eterno ‘gata vamos ouvir uns vinis lá em casa tomar um vinho curtir uns queijos finos’ (com isso eu quero dizer sexo, acho, um assunto bem recorrente nos últimos dois posts e podem me julgar, estou num momento difícil da vida). Eu embelezo mesmo esse tipo de relação, mesmo que ela nem tenha começado. O problema é que aqui não é a outra pessoa que tem que suprir suas expectativas em relação a conversas, comportamento, etc etc.
Que dizer, ela tem, só que você precisa se esforçar mais.

Triste, e irritante, no mínimo.

Mas depois de um tempo, você desencana de tudo. As conversas com os amigos são boas, e vão sempre mudando, melhorando. Chega de correr atrás e forçar assuntos que, uma hora ou outra, viram o tópico da vez.

Chega de ficar se martirizando pra ser legal com a guria, ou ficar adocicando amizades e relacionamentos que não vão rolar de qualquer jeito. E não é ser frouxo, ou largar mão fácil. É só questão de bom senso. Ou talvez eu esteja bem errado. O que importa é que uma hora a vontade imensa de ter alguma coisa com tal fêmea, acaba ficando de lado. Por você mesmo, assim. Nada demais precisa acontecer, você só vai enchendo a cabeça com outras coisas e, de repente, ela parece tão interessante quanto qualquer outra menina bonita. Um pouco mais, vou dizer, mas enfim.



Sei lá.



(ando experimentando essa de escrever espontaneamente, me acompanhem)

10 de jan. de 2011

Um ano fundamental

Dois mil e onze tem tudo para ser um ano ao mesmo tempo grandioso e terrível.

Logo de cara, me inscrevi em uma academia, esse antro de saúde, músculos, amizades, imobilidade temporária e gatas correndo na esteira.
Vou ficar sarado, e colecionar namoradinhas ao longo do ano. Ou apenas perder meu buchinho e já ficar feliz com isso.

Na escola, o terceiro colegial: apogeu dos menores de dezoito anos (eu) que acham que terminar a escola é o maior sinal de maturidade; a entrega do seu diploma sendo também uma passagem simbólica de toda sua masculinidade duramente conquistada.
Apenas para uma curtição mais explícita, unificadora e moleque, o colégio proporciona momentos únicos bacanas (churrascos, etc etc), e outros nem tanto (trotes, todos vestidos de mulher, etc etc).

Ainda no âmbito educacional, a chegada do vestibular.
Eu tento não pensar nisso, mas depois de dois mil e dez, aliviei um pouco da tensão em volta.
Também não ligo para um ano de cursinho.

No conservatório, o fim do curso técnico (teoria), e, além da eterna labuta que é o violão, o começo de uma nova empreitada loka: aulas de trompete.
Aguardem minha transformação em um músico de jazz, conectado como nunca aos dizeres da minha alma, à essência do improviso e a roupas que ostentam elegância e despojamento. Boinas, por exemplo.

Na vida, a maioridade. Tem todo uma glamourização em volta, mas acho que a única coisa que vou tirar disso, é poder entrar nos lugares em que sempre quis entrar, sem precisar mostrar meu RG feito no paint. Vou me frustrar nos primeiros dez minutos, mas tudo vai ser recompensado pela vibe ao redor do momento.
Fora isso, apenas a indiferença em ter um carro (parte fundamental de toda a curtição dos dezoito anos), e o julgamento intensificado dos amigos sobre nunca ter tido noites de amor com uma bela mulher.



Volta 2008.

6 de jan. de 2011

Fronha velha

Transamos pela primeira vez em sua cama, quando todos estavam fora.

Terça-feira à tarde, fechamos as janelas e a porta.

Fazia frio.

A fronha do seu travesseiro era antiga, do Tom & Jerry.

Fiquei quinze minutos tentando desviar o olhar dela (a fronha), para olhar para ela (a namorada).

Quinze minutos.

Depois disso, não conseguia pensar em mais nada, e meu olhar dava para o teto.

Fica a mágoa de dizer que nos separamos, mas tudo bem. Ainda somos amigos, daquele jeito.

Conforme o tempo e as vezes passam, você lembra desses minutos com menos fervor.

E a fronha, as cobertas, nem sempre são as mesmas.

Durou o tempo de um enxoval.

Mas Tom & Jerry continua sendo meu preferido.




(não comi ninguém pra escrever isso)

2 de jan. de 2011

11

Mil e duzentos quilômetros até Cuiabá, com cinco pessoas no carro, dois dias de viagem, e um grande loop de Los Hermanos (“4” melhor disco, agora), Cidadão Instigado e Nevilton.

Dormimos na casa de um amigo do meu irmão, e isso foi no sentido mais literal: só voltávamos para lá pra dormir, depois uma tarde cheia de aventuras na natureza natural do Centro-Oeste.

A parte física não tem nada demais pra dizer: é tudo muito bonito, mesmo.
A Chapada, as cidadezinhas ao redor, as casas das pessoas que visitamos. Coisa que não dá pra ver por foto ou relato.

Agora, as pessoas são a grande coisa, mesmo que eu receba mais do que dê (todos riem).

O casal que não é meu amigo, vou dizer, mas que acho que entraram na minha vida há mais tempo que todos os amigos de fato.

O estagiário que se sente humilhado por carimbar as coisas, mas fala com pompa que agora organiza os xeroxes.

Os pais e maridos que, posso estar enganado, são as pessoas mais legais do mundo.

A família que mora na beira de um abismo. Literalmente.

Fui conhecendo coisas simples de pessoas que deixam a impressão de que vale a pena conhece-las melhor, e de que é triste deixa-las pra trás. Amizade de um dia só.

Não vou acompanhar o crescimento do filho como acompanho o dos meus primos; nunca vou saber que fim levaram os xeroxes; se os pais vão continuar tão legais, e se seus cachorros vão vingar; nem se a família vai progredir ainda mais. E muito menos, se uma sobrinha de sei lá quem vai realmente pra Abu Dhabi trabalhar.

Vai tudo ficando pra trás, sem ser triste. Na hora, já é interessante o bastante.

Uma vibe bonita, uma festa linda.

Toma-lhe, 2011.