Não queriam ter saído de carro, mas o frio, como a ameaça de chuva, é tamanho que os faz desistir. Fulano, Manow, Fernanda, e Marília.
- Tá parado faz quanto tempo? – Manow, no auge da amargura.
Fernanda olha no relógio de mocinha, que conta até teus batimentos cardíacos:
- Uma meia hora.
- Puta que pariu, isso que dá sair essa hora, de carro!
- E tu queria ir a pé de certo, nesse frio.
Olha os passantes na calçada, um monte deles. Nenhum tem medo do frio, ou da chuva, e se bobear estão voltando de suas saídas, enquanto eles malemá estão chegando.
- E aí, qualé a boa de hoje? – Fulano, puxando assunto.
- Ficar preso num carro, tá afim? – Manow, puto.
- Pode sair, porra – Fernanda, competindo, por sinal.
Silêncio. A cruzada do herói, toda a vontade de chatear, destruídas por uma amiga. O nível de amargura sobre, e ele resolve ficar quieto, bufando pra si mesmo.
- Fui num sebo hoje, fera pacas! – Marília, tentando responder a pergunta.
- Qual? – Fulano.
- Pera – Marília tira um cartãozinho de dentro da bolsa, passa pra ele.
- Foda, vou dar uma olhada sasférias – guarda o cartão no bolso.
Mais um sebo na lista, mais uma porrada de livros e cds também, se o dinheiro no fim do mês permitir. Vida de universitário é issaê.
- Cara, olha lá – Manow, saindo do silêncio, e apontando, pra uma mulher sentada em um bar, conversando.
- Quem? – Fulano, indo ver.
- A Morena!
- Quem é essa? – Fernanda, do volante.
- Uma menina que eu saia junto. Mór tempo que não via ela!
- Morena? Que porra de nome é esse? – Marília, tentando ver.
- O nome dela, ué. Muito doida, por sinal.
- AHAM, deve chamar Carol, sasporras comunzinha – Fernanda, fazendo todo mundo rir.
- Nada, era descolada pacas – defende a honra, que não é tua.
- Então vai lá ver – Fulano.
- Será que dá?
- Corre, se começar a andar fudeu.
- Tá.
O engarrafamento, quando muito tenso, faz certas coisas com as pessoas. Nada pra se orgulhar, sair de um carro no meio da rua, pra falar com uma guria que talvez nem se lembre de você. Não custa tentar.
- Morena? – todo animado.
- Manow! – lembrou, pelo menos.
“E aí, o que anda fazendo?” e sascoisas dão uma aliviada no papo, e de repente, ele já é chegado de todo mundo na mesa. Morena fez isso quando a gente ficava, fez tal coisa também. Os amigos, do carro, olhavam há uns 15 minutos, sem ter saído do lugar em momento algum.
- Sifuder, meia hora parados, e té no congestionamento, ele fica com alguém! – Fulano, tomando o lugar de Manow no carro.
- E eu?! – Marília.
- Eu o que?
- Não sirvo?
Se endireita no banco de trás correndo, pra ver o rosto de Marília.
- Sério?!
- Não hahahahaha!
- Cacete de agulha – volta pra janela, ver o amigo.
Ainda lá, tomando uma. Morena isso, aquilo e mais outra coisa. Mas a Morena de verdade, com uma baita cara de entojo.
- Daí outra vez, a Morena e eu...
Daí ele pára, ela fala alguma coisa, meio que constrangida, ele fica vermelho, e toma o resto da uma.
- Ques filhos da puta – bem baixinho, só pra ele.
Fala tchau, levanta e volta pro carro, em três passos bem largos.
- Que que foi? – Fernanda, que té saiu da pose de motorista.
- Nada – puto pacaraleo.
- Nada minha pica, pode falar! – Fulano, todo mundo rindo.
- Porra, só cabou o papo, nem lembrava muito de mim.
- O nome dela é Carol, né, faz moda aqui em São Paulo. Certeza! – Marília.
- hahahahahahah.
- Não, porra... é Beatriz...
- Toma-lhe! HAAHAHAHHAHAH!
As ironias do engarrafamento, constata Manow, não terminam em saber que a gostosona descolada que dizem fazer artes, é uma mocinha que faz moda. Terminam em saber que, por mais 20 minutos, tem que ficar encarando o rosto dela, até o carro andar.
- Mai que porra...
Gostei disso. Divertido.
ResponderExcluirToma-lhe!
:*