- Já fez algum rascunho? – Roberto.
- Já – Fulano.
- Tá aí na mochila?
- Aham.
- ‘xô ver, então.
Pega a mochila, abre, puxa o caderno sem linhas, e joga em cima da mesa, no meio de dois copos, ao lado de uma garrafa. O resto do bar nem parece ver isso, mas se tudo correr bem, logo menos vão.
Roberto abre o caderno.
- É mais pro mei, os primeiros são mais antigos.
- Quero dar uma olhada em tudo.
Vai folheando, algumas páginas recebendo mais atenção que outras, alguns a lápis, bem suaves, normalmente esperando um acabamento em nankin, que não vem por falta de grana pra arranjar a tal tinta, e as tais canetas; alguns feitos com Bic, ondulados pelas camadas de tinta exageradas; isso não volta a ser plano nunca. Depois do meio, por umas cinco folhas, frente e verso, páginas cobertas de desenhos, sem espaço vazio em nenhuma. Esses foram feitos direto em nankin, bem concretos, bem pensados e caprichados. Tem a esperança de mandar um desses em uma parede do prédio deles, com Roberto.
- Tu consegue mandar esses com spray?
- Acho que sim.
- Porra, acha?
- Só usei umas vezes, não sei se consigo certin.
- E como você quer fazer isso sem ter certeza?
- Comé que tu quer que eu tenha certeza, se tudo que eu falo pra gente fazer tu dispensa?
Pausa.
- Tá bom. A gente escolhe alguns desses aqui e boa.
- Sério?
- É, ué.
- E não tem perigo de dar merda, né?
- Não, é lá fora, aquela porra é tão pixada que os manows já desistiram de limpar.
- Certeza?
- Carai, se você tá tão animado pra isso, vai e faz, porra. Se eles pegarem a gente, máximo que acontece é a gente limpar. Conheço o cara.
- Entonces boa!
- Sábado que vem. Vou arrumar uns sprayzes, e você arruma uns também.
- Okay.
- Garçom, mais uma, por favor!
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