Saí com um amigo recém-aceito na Unesp (também conhecido como bixo), e por causa da lotação e de reservas cretinas em todas as mesas do bar, fomos meio que obrigados a sentar no balcão, de frente para três gurias.
Com toda nossa desenvoltura, ficamos brodinhos e naquelas perguntinhas padrão para se conhecer, descobrimos que duas tinham passado e uma estava na lista de espera. Tudo na Unesp.
Uma, inclusive, no mesmo curso que meu amigo.
Foi aí que eu percebi como nosso ciclo de convivência foi mudando, coisa que acontece conforme passa o tempo, normal: agora as pessoas que nós encontramos, são vestibulandas, universitárias.
São, grosso modo, pessoas que terminaram uma etapa da vida e foram jogadas pra serem adultas, enquanto eu ainda tô me acostumando com a ideia de que daqui um tempo vou ser eu.
E disso surgiu meu sentimento de deslocamento.
Eu ainda não tive as sensações, sejam de tensão ou de alívio, que todos da mesa haviam tido.
Eu estava feliz com eles, e por eles, mas não como eles. E isso dá uma certa tristeza, porque isso nunca vai voltar. Quando eu entrar, a sensação vai ser a mesma, só que pra eles: felizes por mim e comigo, mas não como eu. Não vão compartilhar a empolgação, vão apenas entender como ela é, e talvez até reviver um momento que já foi.
Óbvio que eu vou passar por essa comoção coletiva com meus amigos de sala, mas eu estou falando de outras pessoas agora.
Talvez seja querer antecipar demais uma coisa que vai vir na minha hora, mas não tem como evitar, e isso dá abertura pra toda aquela neurose em torno voltar.
De repente um ano de cursinho parece muito, de repente eu posso começar a me sentir deslocado a todo momento. Tentando entrar na faculdade, e todos começando o segundo ano. Tudo bem, mas eu vou ter que me acostumar a ser a pessoa que só recebe os conselhos.
“Aproveite agora, que depois não volta”, “Relaxa”, “Na hora tu vai ver como é”.
Disse pra guria que estava me sentindo muito criança quando ela disse isso. Ela disse que estava se sentindo muito velha.
Claro que na realidade a gente continua sendo criança, achando que de repente viramos adultos por terminar um ano, por passar numa prova. Se isso não rolasse, não iria ter graça nenhuma.
E daí comecei a pensar sobre ir embora.
Até o ano passado, acho, tinha certeza do que queria fazer: mudar de cidade, conhecer pessoas novas e fazer da minha casa, lá. Me desprender daqui e fazer as coisas sozinho, ou “seguir meu próprio caminho”.
Talvez eu ainda queira, porque não desisti da ideia de me mudar.
Só que fica aquela dúvida, de ir embora e deixar pra trás as pessoas com quem eu sempre convivi, ou com quem passei a me relacionar há pouco tempo. Meus amigos, as três gurias do bar.
Meu medo com os amigos, não está em perder o prumo da relação: isso a gente vai ter pra sempre (eu acho). Falta me acostumar com a ideia de que nossos encontros vão ser breves, e bem aproveitados. Nada mais de todos os dias juntos, e cada momento, talvez, com uma importância que nunca antes teve.
Meu medo com os novos amigos, ou os desconhecidos que a gente vai conhecendo, agora sim, é de ir perdendo o jeito. Eu não tenho tanto tempo com nenhum deles, a gente não tem esse “compromisso”, e você precisa de tempo com as pessoas para, enfim, se sentir confortável de verdade, saber o que você pode e não dizer, esse tipo de coisa.
Prefiro driblar isso, e acreditar que é uma eterna descoberta de cada pessoa. Entender cada uma aos poucos, a cada visita, e, não importe o tempo que levar, saber até onde cada coisa vai.
Que venha então minha vez, no tempo em que eu conseguir fazer ser, e quando chegar eu quero estar na avenida pedindo grana com todos que eu quero que fiquem por perto.
somos opostos meu amor. você entrando e eu saindo. tentando uma nova prova, com novas pessoas. deixando as agora velhas convivências diárias pra trás.
ResponderExcluiré assim que é.