31 de jan. de 2010

Escrevendo mal sobre nada

   Tenho seis textos parados, que não consigo terminar:

   Um é sobre o From the Basement do Radiohead, e sobre como isso se relaciona com os meus projetos musicais que teimam em não sair do papel.

   Um é sobre o Registro Multishow do NX Zero, sobre como isso se relaciona com o lado ruim da música, e sobre como eu gosto de acabar com a graça dos outros.

   Um é sobre minha reclamação para com a Rede Globo de Televisão, sobre o fato de passarem Lost. Um texto imbecil, por sinal.

   Um é sobre os diferentes jeitos de se fazer música, e sobre como eu não consigo ser coerente quanto a escolher um.

   Um é sobre o filme do Wilco, uma resenha DAQUELEJEITO.

   Um é sobre “a grande banda da minha época”, sobre o culto ao passado musical, sobre como o Sonic Youth é melhor que os Beatles, sobre como é imbecil chilicar por uma opinião, e sobre como é vazio endeusar uma banda porque todos fazem isso.

   Não vou postar quatro.

   BLOQUEIO CRIATIVO,

    Aquele abs.

30 de jan. de 2010

Seu umbigo agradece

   Esses dias estava assistindo um programa (Arnold) em uma emissora de PRESTÍGIO (SBT), e me deparo com a seguinte cena: 

   Arnold descobre que só vai crescer, no máximo, até o 1,50m. Isso deixa ele BOLADO, e mesmo todos os parentes tentando animá-lo, ele continua triste sobre isso. O pai e os irmãos saem de casa, mas a filha da acompanhante do pai, fica em casa com o nosso caríssimo Arnold. Vale salientar que a filha tem algum tipo de deficiência, e está numa cadeira de rodas.

   Arnold explica pra ela porque está tão CABISBAIXO, e ainda diz que isso (a altura) só irá piorar as coisas, porque além de tudo, ele é NEGRO. A resposta da menina é muito esperta e irônica: eu daria tudo pra ter a sua cor e a sua altura, só pra poder correr por aí.

   O nosso protagonista fica reflexivo, e após uma olhada para dentro da própria ALMA, ele volta a se alegrar.

   ____________________

   Não existe dor menor; se você menospreza a dor dos outros, você é uma IMBECIL, e se você se sentiu tocado por essa cena, você também é um.

   Você não deveria se sentir culpado por poder fazer algo que alguém não pode, e não deveria achar que com isso, você é obrigado a ser feliz pra sempre e não reclamar de nada. Afinal amg, se formos pensar assim, todo mundo deveria saltitar por campos floridos todos os dias só por RESPIRAR. Eu não faço isso, você não faz isso, e ninguém faz isso.

   Acho incrível essas pessoas que usam os problemas alheios para se sentirem melhores em sua própria condição: não importa o quanto você seja medíocre, e o quanto a sua vida esteja uma merda, você deve sorrir todos os dias, porque alguém no Haiti está coberto de terra agora. Ah, pelamor.

   Não devemos fazer piada disso, mas também não devemos usar isso como desculpa pra menosprezar todo o resto, por menor que seja, e você não é uma pessoa terrível só porque se preocupa mais com o fato de ter chegado atrasado no trabalho do que com o Haiti. A chave de tudo é o respeito pela situação, e isso já é suficiente.

   Isso funciona com tudo, se formos ver: gente terminando namoros, e terminando casamentos; gente que se machuca agora, e gente que se machuca pra sempre; gente que briga pra se desculpar em seguida, e gente que briga pra nunca mais se falar. A lista segue, e ninguém deixa de ficar mal em algum item. Pode passar em dez minutos, ou pode passar em uma semana, mas o fato é que fulano realmente se sentiu triste por tal coisa, e não é porque você considera os seus problemas maiores, que você tem que esfregar isso na cara de todo mundo.

   É complicado, talvez o que nós precisamos é de um pouquinho mais de egoísmo. É só aliar ao respeito, à tolerância e ao bom senso, que pode dar certo, tenho confiança amgs.

   No mais, eu digo apenas uma coisa: enquanto eu não puder VOAR, eu vou continuar reclamando das minhas pernas.

   E lembrando que tem gente por aí que não recebe um,

   Forte abs.  

27 de jan. de 2010

Quatro coisas que você deveria fazer

   Quatro coisas, que você deveria fazer nesse fim do recesso escolar, e/ou no decorrer desse ano:

   Ouvir Wilco: porque Wilco é uma banda muito agradável, e seus dias seriam melhores se você ouvisse ao menos uma música deles, porque são todas igualmente agradáveis. Se você ligar os pontos, vai ver que assim seu ano será um ano muito melhor.

   Assistir 21 Gramas e/ou Evil Dead: esses são os dois grandes filmes de minhas férias.

   Você deve assistir Evil Dead se você gosta de filmes de terror, de violência e de filmes de terror violentos. É doentio, e é genial.

   Você deve assistir 21 Gramas se você gosta de nudez, da Naomi Watts, e da Naomi Watts nua. Eu não prestei atenção na história, mas deve ser bacana também. Recomendo.

   Ler um livro: qualquer livro, menos um de auto-ajuda. Porque ler um livro é se incluir no grupo de GENTE QUE FAZ, e um livro por ano vai contribuir muito pra sua ascensão social. Vale a pena fazer isso logo, pra acabar com a agonia.

   Entender o que é piada, e o que não é: essa é a base pra um relacionamento vencedor, porque ninguém gosta de ficar explicando piadas, e porque ninguém gosta de ficar explicando o que é sério. Eu não quero isso, você não quer isso, nenhum de nós quer isso.

    Aquele abs.

20 de jan. de 2010

Sobre Wilco, Glória, e música

   Vamos falar de música, esse assunto que figura em tudo que eu falo. E vamos falar sobre como algumas atitudes, perante a música, me deixam puto, e isso também figura em tudo que eu falo. Se formos levar em conta, eu sou um velho amargo.

   Pode parecer que é a mesma coisa que eu fiz em um texto do ano passado, mas aquele fazia referência a ouvir música, e esse é sobre fazer. Mas com um pouquinho de ouvir também, não sei.

   O negócio é o seguinte: meus amigos e colegas e conhecidos, em grande parte, são FÃS de bandas como Green Day, Glória, Hevo 84, Cine, Strike e outras coisas que formam o limbo musical. E por fã vocês devem considerar que eles tem oito músicas da banda no celular, uma camiseta da mesma, e a cara de pau de sair dizendo que são profundos conhecedores. Isso me irrita mais do que as outras coisas, mas é coisa pra um próximo texto.

   O que me irrita no momento (esse texto é o momento) é que, a maioria desses amigos e colegas e conhecidos, de uma hora pra outra, quiseram aprender a tocar violão. Todos compraram os seus, aprenderam três acordes, tiraram fotos marotíssimas com seus instrumentos, colocaram essas fotos no orkut, e saíram por aí dizendo que tocam muito. Isso me irrita pra caraleo: eu toco há mais tempo que esses ACCs, eu sei mais que esses ACCs, mas nem por isso fico dizendo isso o tempo todo, ou tirando fotos com meu violão com poses malandras. Não me pegue errado, mas é a verdade.

   Ainda assim, não é isso que me deixa mais emputecido. Esse mérito vai para o fato de essas mesmas pessoas ficarem clamando todo o tempo que “o fulano do Green Day toca muito, o fulano do Fresno toca muito” e assim vai.

   Por sorte nunca fui fisgado pelo espírito maligno das bandas três acordes, então eu nunca fiquei muito impressionado com o que eles fazem. Mas porra, mesmo se ficasse, não sairia por aí afirmando com a segurança maior do mundo que esses sim são os maiores guitarristas da história. Ainda mais quando eu não sei nada de música, tecnicamente falando.

   É um fato que a maioria dessas bandas não passa de powerchords fuleiros, e não tem nem idéia do que está fazendo, teoricamente falando, e isso é fácil de entender, certo? Errado. É uma discussão absurda quando qualquer um discorda das HABILIDADES ABSURDAS DO MALUCO DO NXIIIIIIIISSSSSSSSS! Amigo, saber girar no ar com a guitarra não te faz um bom músico; calças coloridas não te fazem um bom músico; aparecer na televisão não te faz um bom músico; ser famoso não te faz um bom músico.

O que te faz um bom músico é saber o que você está fazendo, física e teoricamente. E não adianta dizer que música não é matemática, que teoria não ajuda, que a alma está no improviso, e que os melhores são autodidatas. Música é sim matemática, tudo se encaixando perfeitamente; a teoria te ajuda e muito, mesmo que você seja bom, e só porque os melhores são autodidatas, não quer dizer que eles não poderiam ser melhores. Quanto à alma do improviso, eu também acho isso, e de uma composição boladona também, mas não quer dizer que só porque você sabe improvisar, você é bom, e que todo o seu sentimento está ali.

   Eu sinceramente duvido que esses rapazes bem portados do HARDCORE (fresco) BRASILEIRO expressem tudo que sentem em poucos acordes vagabundos, que são esmurrados sem dó durante toda a música, sem novidade nenhuma. Se eles conseguem, são pessoas bem vazias.

   Agora você, caro leitor, deve estar imaginando que eu sou uma pessoa reclusa em meu quarto escuro, com meus discos antigos de jazz, que não consegue aceitar nada que não venha em três vozes em uma partitura e nem novas formas de música. Mas você está equivocado, MY BOY!

   A garota dos meus olhos é a música experimental: barulho, ruído branco, berros desenfreados, narrações quilométricas, músicas maiores ainda, sons ambientes, instrumentos incomuns, técnicas menos ainda, e métodos pouco usuais. Mas também não dispenso AQUELE chorinho no violão, se isso for bem feito, e sair do comum, no que diz respeito a chorinhos, no caso (que, em importância do fato, sempre são iguais). Soa contraditório, mas a verdade é que só ser diferente, que me enche os olhos. Não vejo muitas coisas iguais à Boredoms, mas também não vejo muitas iguais à Asturias. As duas conseguem sair do padrão, e o resultado é espetacular.

   Pois bem, a questão agora é outra, então: essas bandas experimentais, em sua maioria, não devem ter conhecimento teórico, que eu disse ser importante. Então por que eu dou valor a elas? Porque eu sou hipócrita e preconceituoso, RS (risos)!

   Não, a verdade é que eu dou valor a essas bandas porque elas sabem o que estão fazendo. Seja pelo conhecimento marginal, seja pelo conhecimento usual, todas elas sabem exatamente o porquê das coisas saírem como saem. Ou pelo menos passam a impressão. Até o caos apocalíptico doentio e brutal do Lightning Bolt tem sua estrutura bem formada, e uma composição muito bem feita.

   E isso abre pra outro ponto: você deve saber montar uma estrutura, pra depois desmontá-la. É assim com tudo, não dá pra sair por aí chutando o balde sem ter o mínimo conhecimento da causa.

   Enfim, voltando ao ponto crucial: bandas ruins, e pessoas que as veneram.

   Pode até ser que esses rapazotes afrescalhados saibam o que estão fazendo (o que eu duvido), mas se esse é o caso, então eles merecem menos respeito do que já tem. Porque saber fazer e se contentar com o simples, o três acordes e os ritmos pra lá de manjados, caracteriza uma pessoa IMBECIL. Saber fazer e não querer nem um pouquinho de inovação, é pra gente assim. E fazer algo diferente não significa fazer algo alienígena, e isso eu posso demonstrar com duas bandas que tem o meu apreço pra vida toda: Sonic Youth e Wilco.

   O Sonic Youth faz barulho, tem praticamente uma afinação diferente pra cada música, customiza guitarras pra soarem de modo diferente, e não poupa na experimentação. Geniais, e sabem o que estão fazendo.

   O Wilco toca folk. E todos sabem que folk é uma coisa ruim. Mas o Wilco, veja você, consegue fazer o folk sair bom, porque eles não se limitam unicamente a isso. Eles também fazem barulho e experimentam, mesmo que de forma mais sutil. Até as músicas voz e violão deles são boas, porque são bem feitas, e dá pra ver que muito pensadas. Eu nunca vi uma banda que consegue funcionar tão bem junta. É como se cada coisa fosse crucial pro funcionamento de tudo, por menor que seja. Geniais, e eles sabem o que estão fazendo.

   O Glória (usar "a" pra se referir a uma banda é difuder) eu não faço idéia do que toca. Segundo a Wikipedia, é post-hardcore, mas não sei o que isso realmente quer dizer. Bom, parece uma mistura estranha entre NX Zero e bandas de metal, com direito a grunhidos BOLADOS. Você não precisa ouvir pra saber como é o som deles: a bateria é manjada, os guitarristas ou fazem solos totalmente dispensáveis ou ficam nos mermos três acordes tão amados pela galera, e o vocal acha que sabe cantar um metal FROM HELL. Porque é isso que é, se formos levar em conta: uma banda de metal que se perdeu no meio do caminho. Ruins pra caraleo, e não sabem o que estão fazendo. E eu não estou falando de técnica, pra deixar claro.

  A diferença é absurda, e é por isso que eu fico tão desgraçado. É impossível que as pessoas ouçam isso, e não pensem “huuuuuum, já ouvi isso em algum lugar”. Basta você ter um conhecimento mínimo do que rola agora no nosso país tropical, que você vai saber que todas essas bandas parecem conversar entre si, como se uma fosse a continuação da outra.

   E já que estamos nessa de comparações, vamos falar das letras:

   O Sonic Youth já disse coisas como “all comin' from human imagination, day dreaming days in a daydream nation”, o Glória disse coisas como “hoje perco você em meus braços e morro um pouco mais”.

   O Wilco disse “god is with us everyday, that illiterate light, is with us every night”, o Cine disse “aposto um beijo que você me quer”.

   Esse abismo me leva a outro ponto: a maioria dessas bandas são formadas por caras que ainda estão passando pela puberdade. Jeff Tweedy já abandonou as noites de punheta. Eu acho. Possivelmente é por esse fato que os mais novos sucessos do ROCK brasileiro usam calças coloridas apertadas e cabelos lambidos. Isso me perturba profundamente, amigos, e espero que não seja só eu.

   A estética se une à música, e o resultado não é bonito: vocais enjoados, como as vozes infantis da Sessão da Tarde, clipes no mínimo retardados e instrumentais de dar dó. Se você gosta disso, por motivos que não envolvem o humor, sua credibilidade nas ruas está muito comprometida, porque amigo, gostar de uma banda em que os integrantes usam calças amarelas ou usam roupas apertadas ou ambos, não é bom pra sua imagem perante os vizinhos, e você não quer isso, eu não quero isso, ninguém quer isso. 

   E tudo fica ainda pior, quando menininhas chiliquentas resolvem elogiar essas bandas tão marotas: a discussão é impossível, e a infantilidade toma conta, por isso, vale salientar que ninguém tem inveja dos caras do Fresno (espero) e ninguém quer cantar como o DH (o infame vocal do Cine).

   Eu não posso esperar que todo mundo saiba tudo isso sobre música, pra ter uma base de comparação, mas levaria uma vida melhor se ninguém dissesse que os acima citados tocam muito. Porque não tocam, e você vai se decepcionar quando souber disso. É como sair por aí falando de carros, sem nunca ter dirigido um, e não saber o que é uma vela (isso é o texto anterior, na verdade): na dúvida, fique quieto. 

   Pra começar a finalizar, todos sabemos que afirmações sem base alguma figuram entre as grandes babaquices da vida, por isso eu quero deixar claro que eu sei do que eu falo quando eu me refiro à teoria e coisas assim (foda-se a pretensão), e que enquanto escrevia isso, ouvi Glória, Fresno, Cine e Restart. Isso se chama pesquisa de campo, eu acho, sendo o campo, o Youtube. Além disso, vale dizer que eu perdi meu ponto inicial, mas isso já é algo recorrente em meus textos, então eu passo sobre isso, e vou levando.

   Pra finalizar junto com o Kicking Television, o espetacular disco ao vivo do Wilco, deixo três vídeos pra avaliação da causa, sendo um do Glória, um do Restart, e um do já muito citado Wilco, porque eu confio no meu candidato.


   Toma-lhe!

19 de jan. de 2010

"Take the octopus"

   Fico desgraçado quando algum amigo ou colega posta em algum lugar, ou repassa cara a cara mesmo, alguma piada totalmente imbecil sobre o Lula, sobre a política do país e sobre a situação econômica do mundo. Engraçado, que eu conheço eles, e sei que grande parte nem sabe do que está falando, só recebeu uma explicação rasa, riu e agora repassa essa explicação quando alguém pergunta. Sounds like pretensão, e eu sou um tremendo pretensioso.

   Rir não é o problema, o problema é rir sem saber do que riu, e ainda basear suas opiniões nisso. “Se todo mundo faz piada debochando do Lula, o cara tem que ser um tremendo bunda mole. Taí, não gosto dele também”. Sei lá se é assim que funciona com todo mundo, me baseio em exemplos que eu vejo.

   Mas esse não é o ponto, o ponto é voltar a falar de maturidade. Talvez seja só repassar uma opinião, mas não deixa de ser verdade.

   Maturidade é importante, sem dúvida. Eu não tenho o suficiente pra escrever um monte de coisas que escrevo, e esse é um tremendo exemplo. Possivelmente eu vou ler isso dentro de muito em pouco tempo, e vou discordar de várias coisas; mas ficar antecipando as coisas não leva a nada. Ou não.

   Enfim, maturidade se encaixa perfeitamente nas piadas políticas, porque eu duvido que alguém da minha idade (dezesseis, pra deixar dito) entenda de política tão bem pra dizer que rachou o bico com uma piada sobre o Sarkozy. Na verdade eu duvido que algumas pessoas mais velhas tenham essa maturidade. E porra, tudo bem não entender nada disso, não é nada que vá te fazer alguém melhor, mas se for pra rir de algo, que seja porque você entende plenamente. É igual ficar dizendo por aí o quanto o mundo é uma merda, e voltar pra sua casa quente, com pai e mãe, comida na mesa e carro na garagem, no fim do dia. Não que você não possa se revoltar, mas desde que você se dê conta da hipocrisia que é tudo isso. Não te faz alguém pior aceitar o quão contraditório você é. Esse é o conhecimento da causa que te permite rir da piada sem ter medo de ser questionado sobre.

   Isso não se estende apenas em ler coisas; se estende a fazer coisas. Quem faz tirinhas ou piadas ditas maduras sobre trabalhadores do século XXI e coisas desse tipo, sem nunca ter trabalhado, é um dos maiores exemplos de contradição. E isso vai sair pretensioso até você ter maturidade suficiente pra fazer algo assim e realmente entender o que você fez. Até sair como algo que realmente diz algo pra você, e que não é só uma idéia vazia que você está repassando porque achou forte.

   Dá pra ficar um tempão chilicando sobre a sociedade capitalista-feroz-exploratória e blábláblá, mas como eu vou ter uma opinião que possa ser levada a sério, se eu nunca nem trabalhei na vida? Eu não entendo o que é ter que ficar horas e horas da minha semana fazendo coisas que eu não quero pra conseguir morar em um lugar que me agrade. E eu espero que nunca faça isso mesmo. Pelo menos na parte das coisas que não quero. Enfim, se eu ficasse batendo nessa tecla, seria só uma opinião vazia, mesmo que ela esteja lá. É a mesma coisa com política, e possivelmente com tudo.

   É claro que, de um jeito ou de outro, você vai ter que formar uma opinião, e esperar até poder colocá-la à prova, pra ver até onde ela é forte. E isso não vai acontecer agora. “Por mais que você leia, não dá pra ficar falando por aí sem ter vivido”. Ou algo assim. Um amigo me disse isso há um tempo, e eu vi que estava voltando a isso. Pode ser a síntese de tudo que eu disse.

   Possivelmente alguém vai achar isso um texto cretino, tendencioso e várias outras coisas, mas acontece. Não dá pra escapar da falta de idade e de vida, e a prova é esse texto, e esse blog, que é movido à pretensão, contradição, opiniões distorcidas, descartáveis e falta de maturidade.

   No mais, citando outro, esse não meu amigo, “querer formar suas opiniões usando como base a blogosfera, é como querer aprender a dirigir jogando Mario Kart”.

   E isso nos leva a outro ponto, que qualquer opinião baseada em citações é automaticamente descartável. E assim fica difícil.

   Abs.

Corrente

1. Pegar um livro próximo (PRÓXIMO, não procure);
2. Abra-o na página 161;
3. Procurar a 5ª frase completa;
4. Postar essa frase em seu blog;
5. Não escolher a melhor frase nem o melhor livro;
6. Repassar para outros 5 blogs. (isso eu não vou fazer, fica por conta. sua conta.)

 E eis que me deparo com essa falcatrua em forma de corrente, em outro blog. Aparentemente, já é antigo, mas meu resultado foi tão inusitado, que achei digno repassar.

 Vineland, de Thomas Pynchon:

 Ele se pôs a suar em pânico, além de ter uma ereção”.

 Abs.

15 de jan. de 2010

"Afinadinho é uma beleza"

   Proporção é uma coisa linda, quando os seus (desenhos) saem afinadinhos.

   Proporção é uma tremenda merda, quando a (falta de) estraga os seus (desenhos).

   Boa noite.

13 de jan. de 2010

Ouroboros

“Eu estou!”

“Você é?”

“Não, eu estou”

“Compreendo”

“Não é algo difícil”

“De fato não é mesmo”

“...”

“Às vezes confundo as coisas”

“Compreendo”

“Isso é difícil?”

“Depende do jeito que se olha”

“Entendo”

“Compreende?”

“Também”

“Você vê a diferença?”

“Pra ser sincero, não”

“Então por que respondeu?”

“...”

“Que foi?”

“Não sei, não tem motivo”

“Você me preocupa”

“Eu nem consigo te ver”

“Mesmo?”

“Mesmo”

“Eu sou invisível?”

“Você não sabe?”

“Eu não me vejo”

“Por sinal, nem eu”

“Então sou invisível”

“O que você é?”

“Eu estou”

“Eu sei. Eu quero saber o que você é”

“Eu estar já basta”

“Na verdade não”

“Se eu estou, eu sou”

“Estou confuso”

“Eu vejo sua confusão”

“Então não sou invisível”

“Não”

“Isso me dá alguma vantagem?”

“Não”

“...”

“O sol vai nascer logo, não é melhor você se esconder?”

“E você?”

“Eu sou invisível”

“Mas você é”

“Não, eu estou”

“Estar não basta pra se queimar”

“Ser já basta”

“Então?”

“Então acho que vou me esconder”

“Onde?”

“E você?”

“Eu vou por aquele lado”

“Eu vou por aquele lado”

“Junto comigo”

“Ao seu lado”

“Como vou saber se você está lá?”

“Pergunte”

“E se eu me esquecer?”

“Então eu não existo mais”

“...”

“...”

“Quem está aí?”

10 de jan. de 2010

Ponto

   Ultimamente, eu tenho pensado e falado muito sobre o futuro. Sobre como as coisas podem ser, sobre como o tempo passa... Quando falo do presente, saí algo ruim. E isso é outro tema recorrente: quando não tenho nada pra falar, falo sobre como não tenho nada pra falar. Inclusive já disse isso.

   Agora, tenho mais de uma coisa pra falar, em um texto desnecessário, um vômito. Possivelmente minhas opiniões e conclusões vão sair distorcidas, e no fim, nada vai terminar como eu gostaria que tivesse terminado. É quase a vida, em uma escala menor, se formos levar em conta seu fatalismo. Possivelmente será longo, sem nexo, e eu até acharia uma perda de tempo, se não soubesse que pelo menos três pessoas vão ler, e isso já me deixa feliz.

   Ponto. Eu gosto do meu sobrinho, a maior parte do tempo. Minha irmã tem 22/23 anos (eu não sei ao certo, e isso beira o ridículo) e o meu sobrinho, nesta terça-feira, fará 3 anos. Fico espantado quando as pessoas me encaram assustadas, quando digo que tenho um sobrinho. Como se isso fosse uma coisa impossível. Imagino como deve ter sido e é, pra minha irmã. Talvez isso seja exposição demais, mas se não disser isso pra alguém, de que vale compartilhar as coisas aqui. Eu sou a favor da opinião de que ela seria uma pessoa mais feliz sem o filho dela, mas é só ele fazer uma graça comigo, rir do que eu falo e essas coisas bacanas, que eu digo foda-se, ter um sobrinho é demais. É claro que ele é uma tremenda mala a maior parte do tempo, mas eu também sou. No fim, tem dois jeitos de ser feliz, e esse é o jeito que ela é. E todos são, diga-se de passagem. Primeira opinião distorcida.

   Ainda sobre meu sobrinho, e partindo pros meus primos, nesses tempos de festa notei melhor como eles se comportam. E eu achei isso estranho. Meu sobrinho tem outro tio, da parte de pai, que a essa altura deve ter uns 9, 10 anos. Esse tio xinga quem passar pela frente, e bate em outros tantos. E eu venho percebendo que meu sobrinho está fazendo isso também: bate na minha irmã, me xinga que ‘filadaputa’ e assim vai. Isso é muito pessoa, mas continuando. Eu tenho medo de que ele fique pior, com o passar do tempo, porque por mais que a gente ensine que isso é errado, lá vai o destemido tio (e não só ele) bater novamente na tecla do ‘vai se foder, seu arrombado’. Uma hora isso pára, mas a herança está aí, pro meu sobrinho, que eu sinceramente não quero ver xingando a minha irmã.

   Sobre um primo meu, que tem 8 anos, e ainda sobre o assunto acima. É o mesmo caso, só que com vários amigos. Um ensina ele a ver sacanagem na internet, o outro ensina ele a falar porra, o outro ensina ele a dar porrada. Sinceramente, eu acho que assim você forma um cidadão vencedor. Sem ironias. Mas eu acho que isso está vindo cedo demais pra ele. Ele devia fazer coisas idiotas de criança, e de fato está fazendo, mas no meio tempo, ele faz coisas que não deveria estar fazendo nessa idade. Não sei, é o que eu acho, e é complicado, mas ele não devia ser exposto a certas coisas, enquanto não é a hora. É o velho caso da maturidade, pra entender as coisas. Por sinal eu tenho pouca, porque essa é a segunda opinião distorcida.

   Ponto. Em 2008 eu descobri o quanto a sinceridade é importante pra se manter uma amizade. Eu e meus amigos nunca nós demos a liberdade de falar disso, até porque nem nos ligávamos nisso. Até que eu comecei a forçar essas conversas, do alto de minha neurose. De fato, a verdade nem sempre é legal, pois foram nessas conversas que eu percebi que várias pessoas não eram amigas. Algumas delas, depois de um tempo, passaram a ser, depois dessas conversas, mas outros, simplesmente não quiseram seguir com isso. E eu sinceramente não sinto falta, porque eu vi como elas realmente eram, não só comigo, mas com todo mundo. Não é uma questão de ser cuzão, porque isso todo mundo do meu círculo de conhecidos é. É questão de BRODAGEM. Questão de você xingar de viado, mas estar lá nas horas certas. Isso pode soar bem moça, mas é a verdade.

   Ainda sobre isso. Foi apenas depois dessa mudança de perspectiva que parei de invejar, de certo modo, a amizade de alguns conhecidos mais velhos. Percebi que a maioria desses caras não tem nada mais que colegas, por mais que se digam reais ‘parças’. Talvez por falta de saber até onde vai isso, e por medo de querer saber. Sinceramente eu não sei. Isso eu falo sobre pessoas que conheço.

   Continua. É estranho se afastar de seus amigos, e é um tanto gratificante ver que eles (e você) ainda buscam maneiras de não perder o contato. Mas é um pouco triste ver que agora, as coisas se resumem à conversas um tanto desconfortáveis pelo telefone, ou a comentários com toques limitados em um blog. Melhor seria não acontecer isso, mas se acontece, é bom saber que ainda existem meios de não deixar isso deixar de existir. Porém nem toda a minha sinceridade é capaz de formar uma opinião não-distorcida.

   Ponto. Gente que se acha mais especial que outras. Esses dias li um texto sobre um caboclo que elege as maiores malas do ano. Ele contou que, depois da Fernanda Young ver que estava na décima posição (não tenho certeza), ela mandou um e-mail listando suas realizações do ano, e perguntando se ele tinha feito alguma coisa do gênero. Ele disse que não, mas que tinha feito algo muito melhor: irritado Fernanda Youg.

   Acho engraçado ter que firmar suas conquistas como verdades absolutas, como se fossem padrões pra uma vida mais digna. As coisas só especiais, se alguém achar que elas são especiais. Com o perdão da babaquice, são quase como deuses. E mesmo assim, nada é absolutamente especial. Sempre vai existir quem não gosta. Sempre vai existir quem não acredita. Não é desdenhar das coisas que você sabe, é não ser pretensioso em relação a elas. É não encher o peito pra falar que lê James Joyce. É claro que isso é uma conquista pra você, mas não quer dizer que todos precisem ter lido Ulisses; não quer dizer que alguém seja “menos” por não feito algo.

   Saber desenhar, ter lido algo, escutar alguma coisa... essas coisas só são especiais se alguém acha elas especiais. Se alguém dedica um tempo só pra olhar o que você fez, e no fim, fica satisfeita por ter feito isso. Não te torna o dono da verdade, mas pra essa pessoa, você é ou foi especial. O que não impede que, numa próxima, ela deixe de gostar de algo que você fez. Não sei se é uma questão de matar seus ídolos, mas talvez seja uma questão de não se apegar a verdades, cegamente. Nada está imune à desmistificação. Nem os livros da Fernanda Young, nem as músicas do Sonic Youth.

   Ponto. Tem uma linha tênue (grande linha) entre gostar de coisas que ninguém gosta, pra se auto-afirmar, e pra dizer que você conhece e as outras pessoas não. Eu busco coisas diferentes pelos dois, pra ser sincero. Mais pelo primeiro que pelo segundo, apesar de tudo. O que me deixa desgraçado da minha cabeça, é quando eu digo o nome de uma banda, e a pessoa diz que eu preciso sair mais, ou que eu gosto de umas coisas, viu, ou que deve ser bem famosa, porque eu nunca ouvi falar. Soa como se fosse algo errado ouvir algo assim. É como saber algo, bem. Isso é só seu. Se é algo que pode ser dito especial, não depende de mim, amigo. Acho que o problema é que parece pretensão, tentar buscar coisas fora da superfície. Está nos olhos de quem vê, na maior parte do tempo. Ou não.