18 de jun. de 2009

Lightning Bolt | Wonderful Rainbow [2003]

  Então tu gosta de uma sonzeira pesada? Uns caras parrudos, suados e com cabelos enormes tocando suas guitarras o mais rápido que podem, soltando agudos ou graves que fazem você delirar, né? Coisa de macho, porra, ou vai dizer que qualquer um ouve isso aí?

  A verdade é que sua banda de metal preferida é uma banda de donzelas virgens perto do Lightning Bolt, uma dupla muito dumal, que envolve só baixo, bateria e vocais que não passam de outro meio de fazer barulho. Porque é isso que os caras fazem, barulho. E do melhor. Distorções até onde é possível, ruído continuo e uma densidade extrema.
  Brian Gibson destrói o baixo “como se não houvesse amanhã”, e Brian Chippendale dá a “base” pra isso.

  É por esse motivo que isso visa ser uma resenha do seu segundo disco (ou terceiro, dependendo da interpretação), o Wonderful Rainbow. Disco que, por sinal, já foi resenhado cinqüenta e sete vezes, e tem até uma lista no site dos caras, pra você ver todas. Destaque pra Pitchfork e pro Gordurama, que é a principal influência para mim. Percebam que estou tentando cada vez mais ser escroto e crítico.

  Infelizmente, o que já foi dito exprime tudo o que é necessário saber: Wonderful Rainbow é um tapa na cara, bem dado, e com muita força. Ouvi-lo é algo pra ser feito uma vez ao dia, mais do que isso e você é tomado por tensão, o clássico aperto na garganta. Pelo menos pra mim.
   
  “Hello Morning”, dá uma idéia do que vem pela frente, mesmo sendo uma pequena introdução, de certa forma até calma. E essa calma aparente dá lugar à explosão de “Assassins”, que é basicamente composta por partes levemente diferentes, repetidas sempre, como quase tudo do Lightning Bolt. Uma das mais agressivas do álbum, mas sem deixar de passar uma certa animação e, por que não, uma sensação de aperto, bem pequena.

  Termina “Assassins”, e começa “Dracula Mountain”, uma das músicas mais tr00 de todas. Essa sim é formada por um loop doentio, com berros marcando as viradas e com um peso sem tamanho. Porém, no meio da música, essas repetições descambam pra uma mudança de ritmo e som que mostra realmente a que “Dracula Mountain” veio. Talvez a melhor do disco.

  “Two Towers” começa da forma mais frenética que se pode: você não consegue entender o que está acontecendo, apenas pode torcer pra que isso não dure muito. E não dura. Após um minuto, Gibson chuta um pedal e começa a real porradeira da música, que se estende por nada mais nada menos do que sete minutos. Sete minutos de visões do apocalipse. Admito que é meio cansativa, mas depois de um tempo, você fica hipnotizado pelas camadas de barulho muito bem formadas, diga-se de passagem.
  Btw, esse é um dos méritos do álbum: apesar das repetições e do barulho que não pára por um segundo, você consegue perceber, por trás de toda a fúria, formações rítmicas que, por incrível que pareça, tem seus traços de beleza e parecem muito pensadas, apesar do imediatismo de Chippendale ao tocar a bateria. Ou ao surrá-la. 

  “On Fire” é, sem dúvida, a mais animada do disco, não com menos violência. Nenhuma nota é poupada, nenhuma chance de destroçar a tranquilidade é perdida por Brian, Gibson e Chippendale. Aqui a “voz” é mais ressaltada, mas é impossível de se entender, e só ajuda o barulho a se agravar.
  Depois de um tempo, como em “Dracula Mountain”, a música muda, mas fica lenta, e calma como “Hello Morning”. Mas apenas para estourar novamente em sua rapidez que, vale ressaltar, não é tão tensa quanto o resto do disco.

  “Crown of Storms” começa com um “two hands” (vide google) fodido e após um espaço curto de tempo, é acompanhado por uma marcação da bateria e do próprio baixo que mostra da melhor forma toda a agressividade da banda: a vontade de invadir qualquer lugar com um tanque aumenta a cada nota tocada. E isso só piora quando os vocais entram, criando, literalmente, ruído e fazendo jus à tensão da música. 
  Como na maioria das músicas até agora, mais para o fim, há uma “guinada de 360º” no ritmo, após um “pow”, que é usado quase em todo o álbum (que melhor jeito de representar uma explosão de barulho?), e a música deixa de ser um agente da destruição terrível para ser um agente da destruição terrível e, aparentemente, maníaco: os sons que saem do baixo, mesmo que por pouco tempo, são de uma doença leve, porém visível. Eu acho.
  Termina em ruído, aqueles clássicos mesmo.

  “Longstockings”, mesmo tendo um instrumental ótimo e sutil, é chata. Pronto, essa é a verdade. Toda o caos da banda transforma-se em uma música lenta, que não empolga, mas não deixa de ser ruidosa. Não pule, sem ouvir.

  A música-título do álbum, “Wonderful Rainbow” (ORLY?) é a mais calma já feita pelos caras, eu acho. Não chega a ser chata, por ser curta, mas o fato de ser formada apenas por umas notas se repetindo através de um delay e o vocal soltando apenas uns “tatata tatata”, sem bateria, não deixa a música ser tão emblemática.

  Porém, ela funciona como “Hello Morning”: uma introdução para outra música. “30,000 Monkies” é a doença, nem um pouco leve nem sutil, chegando aos seus ouvidos, direta e assustadoramente. O baixo fica em uma volta sem interrupções enquanto a bateria é destruída.
  Depois de “Longstockings” e “Wonderful Rainbow”, é bom ouvi-la, como uma volta às raízes sangrentas do começo do álbum. 
  Só comentando, o disco me diz “monkies”, mas o google me diz “monkeys”. Seria isso uma gíria? Nunca saberemos.

  E daí começa “Duel In the Deep”. Os rangidos de um portão, ou estática do baixo, tanto faz, marcam o começo. Depois disso, a bateria vem entrando aos poucos, até o clima de terror dar lugar ao barulho já conhecido. A diferença é que, dessa vez, a música passa um desespero, como um “me tira daqui filhadaputah”, na palavras do Gordurama. É o aperto na garganta, com o qual você já se acostumou, volta com força total pra não te deixar esquecer de que você ainda está ouvindo o disco. E termina no rangido macabro novamente, mostrando que, agora sim, acabou.
  Suspeito que ouvir isso à noite, sozinho e no escuro te renda no mínimo um medo de ir até outro cômodo da casa, além de que, com sorte, você consegue invocar algo ao som disso. 

  Pra finalizar, segue um vídeo mostrando a performance ao vivo dos caras, que dizem ser o ponto alto de tudo, já que “os discos são como flyers dos shows”. E parecem ser mesmo, pois os shows, pelo que os vídeos mostram, são retardados: não há palco, a platéia cerca Gibson, Chippendale, e seus amplificadores absurdamente grandes que, acho eu, não aguentam dois shows sem um conserto. Algumas pessoas parecem estar em transe, ao passo que outros aproveitam a chance pra exteriorizar toda a fúria que a música passa. Tanto que, não é raro, você vê alguns caras caírem em cima da bateria, derrubando a porra toda.



   
  No mais, ouçam o disco, deixem o cérebro derreter e não se preocupem caso babem no percurso.

Um comentário:

  1. Meu deus...
    Primeiro comentarei o vídeo: parece que o cara tá tendo um ataque epiléptico com baquetas na mão. Violento.

    Segundo: a coisa mais pesadinha que escuto- às vezes- é Death From Above, que você me apresentou. E é legal.
    Fora isso... não sei se me acostumaria com coisas mais pesadas. haha

    Medo.
    :*

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