7 de jun. de 2009

Medo e Delírio na Estante - Acontece, Aconteceu

Certo, mais um dia, mais uma hora, horas, sei lá. Ando vomitando tudo que me vem à cabeça faz uns dias, sabe, e acho que isso começa a me fazer mal. Não durmo há tempos, e é raro ver alguém. Quando vejo, me apaixono no ato. A vontade de conhecer tudo dessa pessoa, vontade de ser seu melhor amigo. Tantas namoradas que já poderia ter tido, tantos amigos do peito. Só que isso não depende apenas de mim. Acontece. Uma hora as coisas acontecem. Ou não. Toc toc? Ou sim. Uma batida na porta, a essa hora. Um novo ser a ser devorado por meus olhos? Alguma vizinha gostosa, algum amigo já conhecido, o porteiro puto comigo por não abaixar o som? Atendo ou deixo passar? Um olho mágico nesses momentos seria de grande ajuda. Mas fazer o que, não é mesmo? Vou atender, quem sabe ganho algo.

Trick, a fechadura destrancou. A porta não faz barulho pra abrir. Olhões me encarando. Uma amiga gostosa já conhecida, dizendo que o porteiro disse pra abaixar a música. As coisas realmente são estranhas. Plaft, fechei a porta. Ela deitou no sofá, ligou a televisão, veio aqui sei lá por que. Disse que estava voltando pra casa, e decidiu dormir aqui, por preguiça. São de amigos como ela que eu sempre falei. Uns malucos que não fazem porra nenhuma senão ler, pensar e conversar, não interessa a hora, desligados de tudo. Pois também, ela é a pessoa mais bonita que eu já vi. Entre caras e meninas. Sei lá o que aconteceu pra ela virar minha amiga. Infelizmente, só a comi com os olhos mesmo. Acontece, também. Mas não devia. Ela pediu comida. Porra, ela aparece na minha casa no meio da madrugada, dizendo que vai dormir por aqui e mostrando que o que eu penso sobre não importa e ainda me pede algo pra comer? Eu devia até ficar puto, mas aparentemente dias sem dormir, álcool e solidão me transformaram em um bundão.

Click, a porta da geladeira abriu. Eu tenho pizza, e ela aceitou. Aproveito pra comer também. Um filme ruim no acompanhou nessa. Gosto de filmes ruins, de rir dos defeitos. Meia-noite. Perdi a noção de tempo, aparentemente. Ela deve ter chegado às 21 horas. Se eu pirar, essa vai ser a minha última lembrança sã. Tomara que cumpra bem seu papel. Ela pegou uns desenhos meus. Diz que gostou. Assim que eu ganho dinheiro, por sinal. Ilustrando coisas pra revistas, fazendo tirinhas pra jornais, coisas do tipo. Ela me pede pra desenhá-la. Sinto-me como o cara do Titanic. Tive 25 segundos pra dizer que faria um nu, apenas. Novamente, dei uma de bundão. Nem quando eu posso, consigo. Acho que isso soa meio machista. Mas enfim, se não for sincero, de que vale escrever essas coisas? Ela continua bonitona, mesmo de roupa. Saiu da mesa, onde eu estou, a propósito e voltou a deitar no sofá. Faço o desenho rápido, como um rascunho. Assim que eu desenho. Ela me pediu pra dar uma ajeitada. Disse que amanhã fazia. “Mas hoje já é amanhã”. Senhor, coisas assim, ainda mais seguidas de risinhos são o motivo de tanta paixão pelas pessoas. Mas dessa vez sou firme. Digo que só amanhã, amanhã mesmo. Ela disse que vai cobrar.

Ploft, a rolha do vinho sai voando. Quando uma menina me diz que vinho é coisa de viadinho, a coisa tá feia. Ou não. Acho que esse vai ser o golpe de misericórdia. Tomo isso e vou dormir. Se fizer efeito, com ela. Meu último relato são está pendendo demais pra minha excitação. Esse nível de escrotidão espantará futuros leitores. Se eu tivesse algum. Bebemos quase tudo. Duas da manhã. Agora sim é madrugada. Sinto que estou mais bêbado do que ela. Meu plano brilhante de levá-la pra cama periga não dar certo. Acontece. Mas definitivamente não devia. E assim caminho para mais um dia pensando em como seria ter dormido com ela. Ou com qualquer pessoa. Isso tem sido muito freqüente. Amanhã tenho que acordar, e me juntar com amigos homens. Assim não vou ficar me lamentando sobre o que não foi. Pelo menos espero. Agora meu plano maléfico começa a dar resultado. Ela me chama pro quarto.

O barulho de roupas caindo no chão é difícil de escrever. Ou descrever. Mas os aiais uiuis são mais simples. Podia descrever a cena e me tornar um cronista erótico, boêmio e safado. Mas sou o cara feliz, que vai compartilhar isso com ninguém. Ou apenas com seus amigos mais chegados. A não ser que isso seja estranho. Ou uma baita filha da putice. Resolvo depois. Nove da manhã. Dormi o que precisava, e agora tenho uma amiga na cama. Uma amiga já conhecida e gostosa que dá recados do porteiro pra mim. Não sei se ela vai ficar mais um dia, mais tantos dias. Mas isso eu já não esperava. Gostaria, mas enfim.

Certo, mais um dia, mais uma hora, horas, pessoa, pessoas, retratos, que se movem ou que ficam inertes, bebida, bebidas com pessoa, pessoas, que devorei com olhos e mãos. Acontece. E deveria acontecer mais.

Um comentário:

  1. É, tenho sofrido algumas influências nerds ultimamente, rs

    E eu gostei pra caramba desse texto aí.
    :*

    ResponderExcluir